12 de jun. de 2012

De noite, amada


De noite, amada, amarra teu coração ao meu
e que eles no sonho derrotem
as trevas como um duplo tambor
combatendo no bosque
contra o espesso muro das folhas molhadas.
Noturna travessia, brasa negra do sonho.
Interceptando o fio das uvas terrestres
com pontualidade de um trem descabelado
que sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.
Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro,
à tenacidade que em teu peito bate.

Com as asas de um cisne submergido,
para que as perguntas estreladas do céu
responda nosso sonho com uma só chave,
com uma só porta fechada pela sombra.

Pablo Neruda

Um comentário:

Vera Serra disse...

Interessante que hoje li vários poemas de Neruda e de repente deparo-me aqui com esse texto dele maravilhoso. Beber de uma fonte tão saborosa deixa a vida mais leve e gostosa. Um beijo e boa semana.