5 de jan. de 2013

Eu e tu:dois


Eu e Tu Dois! Eu e Tu, num ser indispensável! Como 
Brasa e carvão, centelha e lume, oceano e areia, 
Aspiram a formar um todo, — em cada assomo 
A nossa aspiração mais violenta se ateia... 

Como a onda e o vento, a Lua e a noite, o orvalho 
                                                                  [e a selva 
— O vento erguendo a vaga, o luar doirando a 
                                                                  [noite, 
Ou o orvalho inundando as verduras da relva — 
Cheio de ti, meu ser de eflúvios impregnou-te! 

Como o lilás e a terra onde nasce e floresce, 
O bosque e o vendaval desgrenhando o arvoredo, 
O vinho e a sede, o vinho onde tudo se esquece, 
— Nós dois, de amor enchendo a noite do degredo, 

Como partes dum todo, em amplexos supremos 
Fundindo os corações no ardor que nos inflama, 
Para sempre um ao outro, Eu e Tu, pertencemos, 
Como se eu fosse o lume e tu fosses a chama... 

António Feijó, in 'Sol de Inverno'

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