16 de mar. de 2012

Ah, que Olhos Pôs Amor na Minha Cara


Ah, que olhos pôs Amor na minha cara 
mas sem correspondência a fiel vista? 
Ou se a têm, meu juízo onde é que pára 
que em tão falsas censuras inda insista? 
Se é belo o que meus olhos falso adoram 
que quer dizer o mundo em negação? 
E se não é, amor mostra se goram 
seus olhos, menos fiéis que os homens: não, 
como pode? Como pode, se pranto 
e espera o afectam, ser fiel no olhar? 
De erros da minha vista não me espanto, 
o sol não vê até o céu limpar. 
    Manhoso amor, com choros pões-me cego, 
    mas vendo bem, a tuas faltas chego. 

William Shakespeare, in "Sonetos (148)"

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